RESUMO:

O termo abdome agudo é utilizado para caracterizar a dor intensa na região abdominal, geralmente associada à irritação peritoneal que leva a necessidade de um tratamento urgente. Devido às inúmeras etiologias do abdome agudo e suas diferentes formas de abordagem, essa afecção costuma ser subdividida em: inflamatória, perfurativa, obstrutiva, vascular e hemorrágica (CARDOSO, 2022).

O abdome agudo inflamatório é decorrente de um quadro inflamatório ou infeccioso intra-abdominal que gera uma clínica composta por dor abdominal de origem visceral, com início insidioso e caráter progressivo comumente associado a náuseas, vômitos, febre, hiporexia, taquicardia e distensão abdominal. Dentre as principais etiologias do abdome agudo inflamatório estão: apendicite, colecistite, diverticulite e pancreatite. A epidemiologia varia de acordo com a etiologia. Em casos de apendicite, a incidência é maior em homens jovens dos 10 aos 40 anos de idade. Já os casos de diverticulite são mais frequentes em pacientes idosos acima de 60 anos. A colecistite tem uma prevalência maior no sexo feminino em mulheres em idade reprodutiva e obesas. A pancreatite aguda é mais frequente em homens de meia idade que apresentam histórico de etilismo e em mulheres que apresentam história de cálculos biliares (VAZ, 2022).

O abdome agudo perfurativo ocorre devido a uma perfuração de uma víscera oca do trato gastrointestinal, gerando um quadro clínico composto por dor abdominal súbita, intensa, difusa e persistente que piora com o movimento e achados físicos como o sinal de Jobert positivo e pneumoperitônio na radiografia de tórax. Dentre as principais etiologias de abdome agudo perfurativo estão: úlcera péptica, divertículo perfurado e corpos estranhos presentes no trato gastrointestinal. A epidemiologia varia de acordo com a causa da perfuração abdominal. A doença ulcerosa péptica possui uma incidência global de 1 caso a cada 1000 pessoas/ano e tende a afetar mais a população do sexo feminino. Já os divertículos perfurados tendem a afetar mais a população idosa com mais de 60 anos de forma similar em ambos os sexos (POULI, 2020).

O abdome agudo obstrutivo corresponde a um quadro de dor abdominal provocada por uma obstrução intestinal com interrupção do trânsito, por diversos mecanismos, que leva a uma clínica de dor e distensão abdominal, parada na eliminação de flatos e fezes e vômitos. O abdome agudo obstrutivo pode ser classificado de acordo com o tipo de obstrução presente, que pode ser mecânica ou funcional. A obstrução mecânica ocorre devido a algum agente físico que bloqueia o trânsito intestinal, como as bridas/aderências, o volvo sigmóide e os tumores colorretais. Já a obstrução funcional ocorre devido a um comprometimento da função motora do intestino. Dentre as causas mais prevalentes, estão o íleo paralítico pós-cirúrgico, que gera uma diminuição ou abolição da peristalse intestinal, e a Síndrome de Ogilvie, caracterizada por uma obstrução aguda do cólon intestinal. A epidemiologia varia de acordo com a etiologia. Obstruções mecânicas ocasionadas por bridas e aderências são mais frequentes em pacientes com histórico de cirurgias abdominais. Já as obstruções decorrentes de tumores colorretais são mais prevalentes em pacientes acima de 50 anos, com um pico de incidência maior em idosos com mais de 60 anos (GRIFFITHS, 2023).

O abdome vascular refere-se à isquemia intestinal do delgado e do intestino grosso. É decorrente de uma obstrução da artéria mesentérica superior por um êmbolo, trombo ou placa aterosclerótica que diminui o suprimento sanguíneo no intestino, levando a um quadro de isquemia e consequentemente necrose intestinal. Devido a isso, o paciente desenvolve uma dor abdominal desproporcional ao exame físico e um quadro de acidose metabólica com taquipneia devido ao aumento de ácido lático sanguíneo decorrente da isquemia. Geralmente, o abdome agudo vascular afeta mais pacientes com histórico de doenças vasculares, como hipertensão, diabetes, dislipidemia e tabagismo (MOREIRA, 2022).

O abdome agudo hemorrágico é uma condição em que ocorre sangramento intra-abdominal resultante de diversas origens que podem ser traumáticas ou não. Isso gera um quadro de dor abdominal intensa e súbita, distensão e rigidez abdominal e, em casos mais graves, sinais de choque hipovolêmico como taquicardia, hipotensão, sudorese e palidez. Dentre as causas mais comuns de abdome agudo hemorrágico estão as traumáticas que incluem acidentes automobilísticos, quedas ou ferimentos por arma de fogo, e as causas não traumáticas que incluem gestação ectópica rota, aneurisma de aorta abdominal, cisto ovariano hemorrágico, dentre outras. Por apresentar como etiologia várias situações ginecológicas, o abdome agudo hemorrágico tem uma incidência maior entre a população do sexo feminino em idade fértil (GEORGE, 2021).